terça-feira, 15 de julho de 2008

o negro no futebol globalizado

mario filho, saudoso cronista esportivo, irmão de nelson rodrigues, em sua obra-prima sobre o futebol brasileiro "o negro no futebol brasileiro", associa brilhantemente a figura do negro, oprimido e pobre, como principal responsável pela construção da identidade do futebol brasileiro, no começo tido como um esporte da elite branca nacional, formada por estudantes universitários e, posteriormente, através da inserção do negro, consagrado como principal esporte nacional. cabe aqui ressaltar o pioneirismo do vasco da gama, primeiro clube de futebol a aceitar negros no seu quadro de atletas. o vasco, na época, era o clube menos elitizado do rio de janeiro, o time da colônia portuguesa e dos operários e trabalhadores informais.
vascaíno quando criança, pelé foi o maior jogador da história do futebol, marcou quase 1.300 gols e foi eleito por inúmeras vezes o atleta do século XX. consagrou-se no santos e no fim da carreira foi jogar nos estados unidos para ganhar dinheiro. e conseguiu ganhar muito dinheiro. pelé foi tão brilhante como atleta quanto como produto do capitalismo, tornando-se um excelente garoto-propaganda e ganhando milhões pelo mundo até os dias de hoje. de origem humilde, negro e pobre, pelé é exaltado como alguém que "venceu na vida", que "deu certo". de fato, diante da lógica capitalista, ele realmente venceu, porém se procurarmos enxergar o outro lado desta valiosa moeda, pelé é alguém que perdeu sua identidade, e pior, com a visibilidade que adquiriu através da fama, nada fez pela "causa negra" no futebol, a mesma causa do jovem de origem pobre (que, na maioria das vezes, é afro descendente), que continua sendo explorado e tendo sua personalidade violentada e moldada de forma a atender plenamente às exigências capitalistas. muito pelo contrário, pelé é peça fundamental para a manutenção deste processo, sendo um dos maiores "queridinhos" da riquíssima fifa, órgão máximo do futebol, e também de exploração dos majoritariamente pobres atletas profissionais.
nas últimas semanas, li muitos cronistas esportivos criticando fortemente ronaldinho gaúcho e robinho, que estão forçando suas saídas de barcelona e real madri para milan e chelsea, respectivamente. eu vejo de outra forma. negros e de origem humilde, ambos gostavam de jogar bola na rua quando crianças e decidiram "tentar a vida" no futebol profissional. conseguiram e, dentro do contexto globalizado, adquiriram fortuna e status de ídolo da noite para o dia. não se pode cobrar destes dois meninos que eles tenham mentalidade de administrador de empresas, que sejam profissionais exemplares, e mais, que, sem muita instrução adequada, não se sintam acima do bem e do mal, diante de tanto dinheiro e fama. eles são mais dois negros explorados pelo capitalismo; pela elite branca de empresários que é quem mais lucra com o futebol profissional. também não são vítimas, são apenas produtos do futebol globalizado.

Um comentário:

Anônimo disse...

S-E-N-S-A-C-I-O-N-A-L!!! Velho, sem brincadeira, na minha humilde e modesta opinião a melhor síntese do futebol contemporâneo!!! É o tipo de coisa que eu penso e não consigo expressar de forma tão clara!! Muito bom. Parabéns velho!