segunda-feira, 24 de novembro de 2008

a verdadeira história do campeonato brasileiro.

até o final da década de 1950, não havia qualquer tipo de campeonato nacional de futebol no brasil. pelo menos entre clubes. havia um campeonato nacional de seleções estaduais, porém as disputas interclubes se davam em âmbito estadual. o que mais se assemelhava a um campeonato nacional era o troneio rio-são paulo que, por definição, nada mais era do que uma disputa entre clubes dos dois estados. nem de longe poderia ser considerado um campeonato nacional.
em 1959, foi criada pela cbd (hoje cbf) a taça brasil, que era disputada em forma de copa e tinha como objetivo indicar os clubes brasileiros que iriam disputar a recém criada taça libertadores da américa. a competição reunia clubes das regiões sul, sudeste e nordeste. pode-se dizer que foi o embrião do campeonato brasileiro, até porque, na época, não havia outro campeonato nacional interclubes. a taça brasil foi, portanto, por quase uma década, o nosso campeonato brasileiro e, por mais que a cbf, mesmo tendo sido a criadora do torneio à época, não reconheça, está escrito na história e há de ser respeitado. a taça brasil foi disputada até 1968, quando foi extinta.
a partir de 1967, passou a ser realizado o torneio roberto gomes pedrosa, o popular robertão. este sim, em formato de liga, sem finais, porém disputado em quadrangulares, se assemelhava muito mais ao que conhecemos como campeonato brasileiro nos dias de hoje. de fato, foi o pontapé inicial para a criação do campeonato brasileiro em 1971, até porque foi disputado somente até 1970. durante os anos de 1967 e 1968, portanto, podemos dizer que tivemos um aperitivo da disputa concomitante de 2 campeonatos nacionais. digo 'um aperitivo', porque desde 1989 temos, anualmente, a copa do brasil e o campeonato brasileiro como os legítimos torneios nacionais de futebol.
mas você deve estar se perguntando, 'por que esse cara está falando tudo isso?' a resposta é a seguinte.
por conta da atual iminência da conquista do tricampeonato brasileiro pelo são paulo (lembrando que é tri quem conquista 3 títulos de forma consecutiva), desde o último domingo, vem sendo veiculada, em muitos meios de comunicação, a informação de que o são paulo se tornará o maior campeão brasileiro de todos os tempos, com 6 conquistas, e que será o primeiro clube a ser campeão por 3 vezes consecutivas. tudo isso é uma grande bobagem.
o são paulo, sem dúvida, é o clube de futebol profissional mais vitorioso do brasil nos últimos 20 anos. é também o que tem a melhor estrutura, o melhor centro de treinamento, o maior estádio particular. é, de fato, o clube mais organizado de todos. ostenta também o título de torcida que mais cresce ultimamente, passando de sétima maior do brasil em meados dos anos 70, para terceira maior atualmente. tudo isso é verdade. mas maior campeão brasileiro de todos os tempos ainda não é, e não conseguirá atingir este feito ainda este ano.
cabe agora fazer alguns esclarecimentos. o campeoanto brasileiro de futebol, com esta denominação oficial, iniciou-se em 1971. porém, durante muito tempo não teve fórmula de disputa determinada, divisões inferiores devidamente organizadas e número de participantes definidos. em plena ditadura militar, algumas das edições chegaram a ter quase 100 times, o que claramente demonstra que a simples criação do brasileirão, até se estabelecer regras definidas de disputa em 2003, em nada possuía credibilidade maior do que os já citados torneio roberto gomes pedrosa e taça brasil. então por que não considerá-los?
tudo leva a crer que trata-se de uma convergência de interesses da própria cbf, que desde 1971 passou a organizar o torneio de forma soberana, sem a interferência das federações estaduais, como acontecia anteriormente, e da detentora dos direitos de transmissão televisiva desde então, a tv globo. quase que de forma automática, como costuma acontecer no inconsciente do povão, 'o que não aparece na globo, não é verdade', e o que aparece, passa a ser verdade absoluta, de forma que, num processo de verdadeira lavagem cerebral, fixou-se a idéia no torcedor comum de que 'campeonato brasileiro, só a partir de 1971' e assim acabou sendo. pouca gente passou a discutir o assunto.
mas e o santos de pelé, nunca foi campeão brasileiro? para a cbf e a globo, não. a história mostra que sim.
adotando a linha mais coerente com a atual configuração de disputa, consideremos como campeonato brasileiro de futebol a taça brasil de 1959 a 1966 e o robertão de 1967 a 1970. desta forma, temos como maior campeão brasileiro o santos, com 8 títulos, sendo 5 de forma consecutiva, conquistados na 'era pelé' (1961, 1962, 1963, 1964 e 1965) e três de forma alternada (1968, 2002 e 2004). o segundo maior campeão seria o palmeiras, com 7 conquistas (1960, 1967, 1969, 1972, 1973, 1993 e 1994). o são paulo, se realmente vier a confirmar o título deste ano, se tornará o terceiro maior campeão brasileiro da história, com 6 triunfos (1977, 1986, 1991, 2006, 2007 e 2008). inegavelmente, um grande feito, porém ainda relativamente longe de ser algo inédito.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

o goleiro: razão e emoção.

no futebol, ser goleiro é vocação; é como ser médico. o goleiro é masoquista por definição. raramente marca gol, leva gol quase todo jogo e está sempre na corda bamba. o goleiro pode fazer um jogo espetacular, se tomar um frango no fim, vira vilão. o goleiro é maldito, ele está lá só para evitar gols, para prolongar o sofrimento de muitos e apenas adiar a decepção de outros. no inconsciente do apaixonado por futebol, o goleiro é a personificação do anti-clímax.
quando criança, eu fui goleiro. de futebol de salão, é verdade, pois a minha estatura não permitiria ousadia maior. nem era tão grosso na linha, mas decidi ser goleiro só por causa de um ídolo. o goleiro do corinthians: ronaldo. ronaldo soares giovanelli, um metro e oitenta e sete, uniformes extravagntes, a maioria de péssimo gosto, capitão e camisa 1 do corinthians por quase uma década. ronaldo é corinthiano. era o autêntico corinthiano no campo de jogo, nervos à flor da pele durante os 90 minutos. briguento, polêmico. grande goleiro, porém especialmente espalhafatoso, capaz de defesas plasticamente espetaculares e falhas ridículas. o maior goleiro que já vi jogar no corinthians, porém muito mal sucedido em sua passagem pela seleção brasileira. um frango contra a alemanha e nunca mais.
a seleção brasileira não tinha (e quase nunca teve) espaço para goleiros muito "emocionais". desde que acompanho futebol, goleiro de seleção brasileira tem que ser frio. quase um alemão ou escandinavo.
comecemos pelo exemplo de taffarel, o goleiro da seleção brasileira durante nada menos do que 10 anos. parecia um cubo de gelo embaixo das traves, nada o abalava. nem os frangos que tomava, levantava como se nada tivesse acontecido. tecnicamente bom, mas acima de tudo muito equilibrado, muito racional. um dos heróis do tetra.
seu reserva era zetti. esse mais frio ainda. tinha dias que zetti simplesmente não levava gol. podia acontecer o diabo, o time adversário podia ser o que fosse, zetti pegava todas, fechava o gol. sempre de calça e meias por cima das barras, zetti era um monge. sempre muito calmo, ponderado, concentrado. tecnicamente o mais completo que já vi, mas de pouca vibração. ídolo do são paulo e do santos, porém sempre reserva da seleção. uma pena.
o sucessor imediato da era taffarel-zetti foi dida. um grande goleiro, literalmente. muito alto, de envergadura fora do normal, dida não tem expressão. sua atitude beira à sonolência porém, muito concentrado, é exímio pegador de pênaltis. que o diga raí, que em sua última passagem pelo são paulo jogou por água abaixo a classificação do tricolor às semifinais do campeonato brasileiro de 1999. logo contra o corinthians, de dida, que defendeu os dois pênaltis cobrados pelo eterno camisa 10 do morumbi e garantiu a vaga do timão. mas dida também não deu muita sorte na seleção. na copa em que jogou como titular, em 2006, o brasil perdeu feio para a frança. e, cá entre nós, dida não teve culpa, mas já estava longe de sua melhor forma.
dida estava vivendo sua mais brilhante fase às vésperas da copa de 2002. mas a seleção tinha felipão como técnico e felipão confiava mesmo era em marcos. grande marcos. além de tudo um sujeito gente fina. acabou com o corinthians em duas libertadores seguidas (1999 e 2000), mas mesmo assim todo corinthiano adora esse cara. marcos é uma excessão na seleção, é estilo ronaldo; emocional, polêmico, sangue quente, porém sem ser briguento. verdadeiramente palmeirense. marcos conquistou o brasil na copa de 2002, com o penta. era figura importantíssima da família felipão e fez um torneio irretocável. que oliver kahn que nada, o goleiro da copa foi o marcão!
contudo, no último fim-de-semana marcão vacilou. falhou em jogo chave do palmeiras na briga pelo brasileirão e partiu desesperadamente para o ataque em busca do empate, numa tentativa desequilibrada e inapropriada para um capitão de time grande. não deu certo, mas a torcida gostou.
se existe algum jogador no futebol brasileiro que é amado por sua torcida, este atende pelo nome de rogério ceni. rogério é o espelho do sãopaulino. culto, líder, goleiro do time. um cara sério, ponderado, equilibrado, um atleta exemplar. nunca faltou a um treino, nem sequer atrasou. incansável nos treinamentos e principalmente nos jogos. é a alma do são paulo. além de tudo cobra faltas e pênaltis e faz muitos gols. é o perfeito sucessor de zetti, segundo a maioria dos tricolores, até melhorado. em minha modesta opinião, tecnicamente zetti foi muito melhor, mas como ídolo, até por sinal de nossos tempos, rogério é maior. muitas vezes arrogante, é verdade, mas sempre em defesa do são paulo. na seleção, principalmente por sua arrogância, não foi bem. frangou, não admitiu, saiu. os sãopaulinos não se conformam até hoje. também, pudera, rogério é o jogador mais vitorioso da história do são paulo e está prestes a ser campeão brasileiro mais uma vez, a terceira consecutiva. tomara que não, mas vamos ver.
falando em campeão, atualmente, o corinthians tem felipe. baiano arretado, explosivo, muito elástico. jovem ainda, porém já um lider. felipe caiu com o corinthians, mas subiu e foi campeão da série b. foi para os braços da fiel no pacaembu. se irá para seleção, só o tempo dirá, mas uma coisa ninguém pode discutir: felipe é corinthians!
o goleiro talvez seja o jogador mais sacrificado numa equipe de futebol, mas também por isso, acaba se tornando o mais passível de admiração, idolatria. é, ao mesmo tempo, o principal ator emocional e racional do jogo. um verdadeiro protagonista da arte do futebol.