quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Futepatologia.

Onde será que se perdeu meu gosto por falar de futebol? Realmente, se estou ausente deste canal há bom tempo, existe um motivo. E cabe alguma reflexão para descobri-lo.

A idade tem papel, mesmo que secundário. O futebol é paixão demais para ser maduro. Por isso, é tão bom. É criança mimada, é pelada de rua. É amor puro e ao mesmo tempo sexo selvagem, na lama, na raça do gol suado. É classe, também: do chapéu, do drible curto. É a malícia da caneta, do gol de letra. É vida e fantasia, ao mesmo tempo.

Mas, o futebol de hoje é muito mais dos cartolas, que, apesar dessa alcunha, em sua maioria, não são nada elegantes ou discretos. Caras-de-pau, chutam o balde e confundem paixão pública com tesão privado. É a tara da riqueza fácil, da fama plebeia que deveria ser propriedade exclusiva dos verdadeiros boleiros. Desde que a bola é grana, a malandragem vem sendo, gradativamente, substituída pela sacanagem de colarinho branco. A safadeza do branco de corpo e alma, do cego ao coletivo. O vendido-homem de família, travestido de sério e de mole-falso-pseudocordial discurso corporativo, a tudo quanto é assunto popular. Nunca foi tão difícil unir, de dentro pra fora dos clubes, paixão e futebol. Os jogadores (e diga-se aqui, boa parte deles sem qualquer talento futebolístico) passaram de boleiros a blogueiros - enganosos propagandistas de um estrelato sem razão de existir. O futebol passou de vida e pureza-fantasia a engodo de má qualidade. O jogo mal jogado é coqueluche mundial de futebol eficiente. Logo a arte transmutou-se em ciência, como num passe de mágica.

Os lances ilusionistas dos magos dos gramados simplesmente desapareceram. As cifras se multiplicaram e o apego do herói ao seu uniforme sumiu. Assim, os heróis não são mais heróis, senão por menos de seis meses. Meia dúzia de jogos e já vão esconder-se em qualquer gélido canto do planeta. O mundo é uma bola e ela está cada vez mais murcha.

Agora entendo melhor quando me chamam de corinthiano doente. Camisa loteada? Promessa de estádio-esquemão? Moradei, Moacir e Morais? Ingresso em lugar descoberto a 100 reais? Fora a inversão de valores atribuídos às competições. O Paulistão é "paulistinha", O Brasileirão é obrigação e o importante é a Libertadores. Onde ninguém se conhece, corinthians e cruzeiro é clássico. Afinal, quanta rivalidade! Nossos arqui-inimigos, os azuis. Não seriam os verdes, os tricolores? Até os alvinegros praianos, por que não? Não serei hipócrita, claro que é emocionante. Mas, muito mais uma emoção enlatada que compramos sem querer, querendo. Porém, francamente: escalonar emoções, classificá-las, atribuí-las níveis de importância? Só pode ser patologia.