terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

a bola pós-moderna.

muitos se referem ao futebol de hoje como "moderno", quando deveriam se referir como pós-moderno. a influência da pós-modernidade se dá em todos os tipos de manifestações culturais ocidentais contemporâneas, e é implacável.
o futebol, de forma geral, sofreu grande influência desta lógica cultural capitalista. principalmente a partir da década de 1980, com a consolidação da cultura globalizada, através da grande dinamização dos meios de comunicação, também cresceu muito o intercâmbio cultural futebolístico, porém direcionado, fundamentalmente, para o aperfeiçoamento de uma filosofia essencialmente voltada para o chamado "futebol de resultado", não só em campo, mas principalmente fora dele. a lógica é simples: um time para ser lucrativo, tem de ser vencedor. dessa forma, mesmo que jogue feio, tem de ganhar a qualquer custo, para que, assim, construa uma imagem de equipe vencedora e seja um bom produto.
não precisa nem dizer que as consequências desta mutação da mentalidade do futebol profissional trouxe quase que uma totalidade de aspectos negativos. o futebol deixou de ser alegre na maior parte do tempo, se tornou um esporte muito mais atrelado à força física do que a técnica e, apesar do advindo dos televisores coloridos, caminhou na contramão e se tornou cinza, sem graça. para não dizer vermelho, de sangue.
a competitividade exacerbada, traço forte da pós-modernidade, não só ofuscou o brilho do futebol em campo, como também refletiu nas torcidas. surgiram as torcidas organizadas que, em sua essência, têm um propósito muito interessante. um grupo reunido de pessoas apaixonadas pelo mesmo time (e, no brasil, por samba, na maioria das vezes), que organiza festas e vai aos estádios para dar apoio e empurrar a sua equipe. porém, o espírito de vida pós-moderno busca a competição entre os homens, para assim distinguir os "fracos" dos "fortes", custe o que custar; é a lei da selva. daí, de forma sucinta e simplista, porém elucidativa, evidenciam-se os reflexos da pós-modernidade no campo e nas arquibancadas. verdadeiras selvas, pessoas se comportando como animais selvagens e atacando em bando. nada mais apropriado para o futebol do capitalismo selvagem.
é claro que, no brasil, as consequências tendem a ser devastadoras. soma-se tudo isso a sérios problemas sociais, como a pobreza, a desigualdade em todas as suas faces, a injustiça, a ausência do poder público, etc. mas, voltando-se especificamente para os gramados, o que se vê é uma infinidade de equipes extremamente defensivas, futebol de pouco brilho, um exército de jogadores medíocres, até porque os talentosos acabam se transferindo, em sua maioria, para a europa já na adolescência, e um jogo demasiadamente viril, beirando a violência.
um bom exemplo de tudo isso foi o clássico majestoso, como é chamado, do último domingo. corinthians e são paulo desfilaram esquemas táticos retrancados, jogadores comuns e lances de volência gratuita. somente quando se viu um pouco de talento, com as entradas de hernanes, pelo time tricolor, e do jovem boquita, pelo corinthians, saíram os gols do disputado (no mal sentido) empate por 1 a 1. nas arquibancadas, violência. quebra-quebra na torcida do corinthians, revoltada com a imbecil decisão da diretoria do são paulo de destinar aos corinthianos somente 10% dos ingressos colocados à venda. decisão esta que foi amplificada de forma não menos imbecil pela sombria diretoria corinthiana que, no dia anterior ao jogo, declarou guerra contra o são paulo, anunciando que não mais alugaria o morumbi para disputar seus jogos e que, quando fosse mandante, daria o mesmo tratamento ao são paulo. na guerra dos cartolas, quem sofre de fato é o povo. em resumo, gaviões versus polícia militar e muitos feridos.
e o que se vê no horizonte é desanimador.