terça-feira, 11 de novembro de 2008

o goleiro: razão e emoção.

no futebol, ser goleiro é vocação; é como ser médico. o goleiro é masoquista por definição. raramente marca gol, leva gol quase todo jogo e está sempre na corda bamba. o goleiro pode fazer um jogo espetacular, se tomar um frango no fim, vira vilão. o goleiro é maldito, ele está lá só para evitar gols, para prolongar o sofrimento de muitos e apenas adiar a decepção de outros. no inconsciente do apaixonado por futebol, o goleiro é a personificação do anti-clímax.
quando criança, eu fui goleiro. de futebol de salão, é verdade, pois a minha estatura não permitiria ousadia maior. nem era tão grosso na linha, mas decidi ser goleiro só por causa de um ídolo. o goleiro do corinthians: ronaldo. ronaldo soares giovanelli, um metro e oitenta e sete, uniformes extravagntes, a maioria de péssimo gosto, capitão e camisa 1 do corinthians por quase uma década. ronaldo é corinthiano. era o autêntico corinthiano no campo de jogo, nervos à flor da pele durante os 90 minutos. briguento, polêmico. grande goleiro, porém especialmente espalhafatoso, capaz de defesas plasticamente espetaculares e falhas ridículas. o maior goleiro que já vi jogar no corinthians, porém muito mal sucedido em sua passagem pela seleção brasileira. um frango contra a alemanha e nunca mais.
a seleção brasileira não tinha (e quase nunca teve) espaço para goleiros muito "emocionais". desde que acompanho futebol, goleiro de seleção brasileira tem que ser frio. quase um alemão ou escandinavo.
comecemos pelo exemplo de taffarel, o goleiro da seleção brasileira durante nada menos do que 10 anos. parecia um cubo de gelo embaixo das traves, nada o abalava. nem os frangos que tomava, levantava como se nada tivesse acontecido. tecnicamente bom, mas acima de tudo muito equilibrado, muito racional. um dos heróis do tetra.
seu reserva era zetti. esse mais frio ainda. tinha dias que zetti simplesmente não levava gol. podia acontecer o diabo, o time adversário podia ser o que fosse, zetti pegava todas, fechava o gol. sempre de calça e meias por cima das barras, zetti era um monge. sempre muito calmo, ponderado, concentrado. tecnicamente o mais completo que já vi, mas de pouca vibração. ídolo do são paulo e do santos, porém sempre reserva da seleção. uma pena.
o sucessor imediato da era taffarel-zetti foi dida. um grande goleiro, literalmente. muito alto, de envergadura fora do normal, dida não tem expressão. sua atitude beira à sonolência porém, muito concentrado, é exímio pegador de pênaltis. que o diga raí, que em sua última passagem pelo são paulo jogou por água abaixo a classificação do tricolor às semifinais do campeonato brasileiro de 1999. logo contra o corinthians, de dida, que defendeu os dois pênaltis cobrados pelo eterno camisa 10 do morumbi e garantiu a vaga do timão. mas dida também não deu muita sorte na seleção. na copa em que jogou como titular, em 2006, o brasil perdeu feio para a frança. e, cá entre nós, dida não teve culpa, mas já estava longe de sua melhor forma.
dida estava vivendo sua mais brilhante fase às vésperas da copa de 2002. mas a seleção tinha felipão como técnico e felipão confiava mesmo era em marcos. grande marcos. além de tudo um sujeito gente fina. acabou com o corinthians em duas libertadores seguidas (1999 e 2000), mas mesmo assim todo corinthiano adora esse cara. marcos é uma excessão na seleção, é estilo ronaldo; emocional, polêmico, sangue quente, porém sem ser briguento. verdadeiramente palmeirense. marcos conquistou o brasil na copa de 2002, com o penta. era figura importantíssima da família felipão e fez um torneio irretocável. que oliver kahn que nada, o goleiro da copa foi o marcão!
contudo, no último fim-de-semana marcão vacilou. falhou em jogo chave do palmeiras na briga pelo brasileirão e partiu desesperadamente para o ataque em busca do empate, numa tentativa desequilibrada e inapropriada para um capitão de time grande. não deu certo, mas a torcida gostou.
se existe algum jogador no futebol brasileiro que é amado por sua torcida, este atende pelo nome de rogério ceni. rogério é o espelho do sãopaulino. culto, líder, goleiro do time. um cara sério, ponderado, equilibrado, um atleta exemplar. nunca faltou a um treino, nem sequer atrasou. incansável nos treinamentos e principalmente nos jogos. é a alma do são paulo. além de tudo cobra faltas e pênaltis e faz muitos gols. é o perfeito sucessor de zetti, segundo a maioria dos tricolores, até melhorado. em minha modesta opinião, tecnicamente zetti foi muito melhor, mas como ídolo, até por sinal de nossos tempos, rogério é maior. muitas vezes arrogante, é verdade, mas sempre em defesa do são paulo. na seleção, principalmente por sua arrogância, não foi bem. frangou, não admitiu, saiu. os sãopaulinos não se conformam até hoje. também, pudera, rogério é o jogador mais vitorioso da história do são paulo e está prestes a ser campeão brasileiro mais uma vez, a terceira consecutiva. tomara que não, mas vamos ver.
falando em campeão, atualmente, o corinthians tem felipe. baiano arretado, explosivo, muito elástico. jovem ainda, porém já um lider. felipe caiu com o corinthians, mas subiu e foi campeão da série b. foi para os braços da fiel no pacaembu. se irá para seleção, só o tempo dirá, mas uma coisa ninguém pode discutir: felipe é corinthians!
o goleiro talvez seja o jogador mais sacrificado numa equipe de futebol, mas também por isso, acaba se tornando o mais passível de admiração, idolatria. é, ao mesmo tempo, o principal ator emocional e racional do jogo. um verdadeiro protagonista da arte do futebol.

2 comentários:

João disse...

Rogério Ceni para presidente é o que dizem.


Aquele Abraço.

Anônimo disse...

style,gostoso de ler
continue assim meu chapa