quinta-feira, 11 de setembro de 2008

futebol brasileiro em transe, já!

há pouco mais de 19 anos, a confederação brasileira de futebol é presidida e administrada pela mesma pessoa: ricardo teixeira. durante todo este tempo, a entidade lucrou muito, construiu uma nova e suntuosa sede, também no rio de janeiro (como todas as anteriores), vendeu os direitos de comercialização dos jogos da seleção brasileira para um grupo estrangeiro especializado em organização de eventos esportivos; tudo isso sob a máscara de uma administração vitoriosa, que se vangloria de ter sido responsável pela conquista de duas copas do mundo (1994 e 2002), como se o futebol brasileiro, alguma vez, tivesse precisado da cbf para conquistar algum título. muito pelo contrário. talvez, se tivesse sido gerido de outra forma, provavelmente teria conquistado muito mais.
o jogo de ontem, contra a bolívia, no engenhão, foi o espelho de todo este processo. a começar pelo local do jogo, um estádio lindíssimo, porém comprovadamente construído com superfaturamento para a realização dos jogos panamericanos do rio de janeiro, no ano passado. não podemos deixar de lado também, o preço dos ingressos. dos 45 mil que foram colocados à venda, 15 mil(!!!), isso mesmo, 15 mil foram disponibilizados para convidados e camarotes corporativos, aqueles espaços em que os fiéis representantes da elite branca podem tomar o seu champagne e posar para suas fotos em colunas sociais enquanto, de vez em quando, espiam o jogo ao fundo. aproximadamente 20 mil ingressos foram colocados à venda com preços de 100 ou 200 reais e apenas 10 mil foram destinados ao povão, com o módico preço de 30 reais. resultado: arquibancadas vazias e uma verdadeira luta de classes na platéia. de um lado, a elite do camarote, de outro, o povão da arquibancada. fenômeno semelhante ao que ocorria na década de 1910, em que havia uma divisão do espaço destinado aos espectadores nos estádios. nas aquibancadas os ricos, e na geral, os pobres, que eram obrigados a assistir o jogo em pé. neste aspecto, ao contrário do que tenta vender a cbf, com seu nefasto discurso de modernidade, o futebol brasileiro está 100 anos atrasado.
pois bem, vamos ao jogo. um jogo horroroso, uma seleção brasileira apática, sem brilho, sem criatividade, sem jogadas ensaiadas, uma orquestra de grandes músicos, porém sem maestro e totalmente desafinada. um time mal convocado, mal escalado e mal substituído, um verdadeiro desastre. as vaias foram inevitáveis, porém incomuns. foram vaias de vergonha, de desprezo, de ódio. um pouco escassas, é verdade. o pessoal do camarote não devia estar muito preocupado com isso.
vi o jogo e fui dormir com o mesmo sentimento dessa gente da arquibancada, da geral dos anos 10. de indignação. depois fiquei pensando o que poderia ser feito para reverter este quadro. somente demitir dunga, talvez não seja o caminho. deve-se promover um movimento de democratização da cbf. para o bem da seleção masculina, da feminina mais ainda e, principalmente, algo que sirva de exemplo para os clubes de futebol do brasil. que aconteça em todos eles processos similares aos que aconteceram em vasco e conrinthians, que depuseram seus ditadores recentemente. o corinthians ainda aprovou um estatuto que proíbe a reeleição, um grande passo. a cbf poderia seguir o mesmo caminho, mas por vontade própria, certamente não seguirá.
estou convencido de que apenas com uma verdadeira tragédia futebolística, algo poderá ser feito. baseado mais na fé e na devoção (tipicamente brasileiras) do que na lógica aristotélica ou qualquer lógica de outra natureza, sinceramente acredito que somente uma não-classificação para a próxima copa do mundo possa mobilizar a sociedade para uma mudança profunda. seria a morte do futebol brasileiro. para isso, me apóio nas palavras de glauber rocha, pai do cinema novo, mais especificamente em trecho brilhante de "terra em transe", uma de suas grandes obras:


Ando pelas ruas e vejo o povo magro, apático, abatido. Este povo não pode acreditar em nenhum partido.

Este povo alquebrado, cujo sangue sem vigor... Este povo precisa da morte mais do que se possa supor.

O sangue que estimula meu irmão à dor, o sentimento do nada que gera o amor.

A morte como fé, não como temor!

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