quarta-feira, 17 de julho de 2013

O Vasco e Flamengo dos padrões FIFA.

Ainda que os números defendam com afinco e alguma galhardia a lógica que reverte o senso comum de crença em alguma superioridade rubro-negra sobre o gigante-da-colina, não vamos nos render a estes gélidos signos, de tanta arrogância, rispidez e indiferença. Quem lhes queira, que vá atrás das compilações de dados, tão úteis e monótonas quanto um frasco cúbico de isopor. Aquele mesmo que mantém geladas as companheiras cervejas que acompanham o ritual clássico de se assistir o jogo dos milhões. 

São milhões. Reunidas, a 1ª e a 5ª maiores nações do futebol brasileiro, numa seleção de 50 mil abastados agraciados pela ocasião, em plena capital nacional, fazem ensurdecedor ruído de paixão incondicional. Apenas a reverberação de uma orquestra de percussão de mais de 60 milhões de almas devotas. Corações rendidos.

O presente, como se vê, não é de flores. O Flamengo passa por uma reestruturação organizacional, bem aos moldes das corporações capitalistas, afinal, tem em seu comando geral um burguês de mão cheia, o novo presidente, que poucos sabem o nome e o elegeram muito mais pelas credenciais da grana do que por alcunha, representatividade histórica, paixão, ou coisa que os valham. O técnico, Mano Menezes, um perfeito gerente de departamento corporativo. Meio estilo disciplina do capital, meio militar reformado - apesar de ele mesmo nem sonhar-se desta maneira - costuma funcionar. Apesar do revés na seleção, este gaúcho de pouco mais de 50 anos, joga o futebol de justos resultados. Aposta tudo no seu faro de placares mínimos e vitórias apertadas. Costuma dar heroica moldura aos seus comuns triunfos. Eu acho, é pouco. 

O flamenguista nunca gostou de miséria e, em que se puder evitá-la, como no campo de futebol, dos sonhos por novos Zicos, Júniors, Leandros, Nunes, Andrades e Adílios, que faça-se desta forma, pensa o rubro-negro. O time, ainda meio que uma desordenada compilação de médios-talentos, como o goleiro Felipe, o bom e velho Leonardo Moura, o gringo-brasileiro valente González na zaga, e boas surpresas, por vezes nem tão novas assim, no meio, como Elias e Paulinho (não esse de hoje). Na frente, Marcelo Moreno, um caneludo de primeira, acompanhado do bom Gabriel. A qualquer momento, conta-se com presença colérica do jovem Nixon, de poderoso futebol. 
       
De forma melancólica, pode-se dizer que foi suficiente para bater a inoperante esquadra cruzmaltina. Como dinamite, o bom time do Vasco de 2 anos atrás explodiu em meio a dívidas e deserções. Roberto, o ídolo-presidente, é o espelho de uma grande parcela de carismáticos políticos brasileiros. Dotado de algumas boas vontades, para si e, às vezes, à maioria, é a personificação de uma incompetência com tons de silêncio tchekhoviano. Tem trocado o comando da equipe por repetidas vezes nos últimos tempos e, com pretensões românticas e paliativas, já se apressou em empossar no cargo o velho conhecido e mal-compreendido Dorival Júnior, vitorioso na campanha do retorno à Série A, anos atrás. Será medo, esperança ou um verdadeiro amálgama de sentimentos essencialmente inseguros? O vascaíno sofre.
       
Do magro e apático 1 a zero para o Flamengo, há pouco o que se falar, senão menção honrosa ao esforço do bravo Elias, um tom de classe à meia-cancha flamenguista. Louros também ao autor do gol, Paulinho. Um gol diminuto, inversamente proporcional à vasta imensidão do abismo que separa a grandeza destas instituições e a limitada visão periférica de quem as pensa e dirige.
       
O Rio não tem mais estádios, pode? Tem rios de dinheiro público rolando nos mais obscuros campos do entendimento humano; o Maraca tem dono - o ex-homem mais rico do Brasil - botafoguense e o Botafogo também não têm onde jogar. O clássico dos milhões é e sempre foi do Maraca, mas o Maraca agora tem dono. O dono de tantos milhões.
     
E nessa trama-mutreta tão brasilianista, o clássico foi parar em Brasília, a preços absurdos, para vascaínos e flamenguistas que somente conhecem as ruas das janelas de suas naves blindadas de qualquer externo distúrbio. Não menos apaixonados, talvez, mas menos interessados em bagunçar seus topetes em meio a pulos e gritos apaixonados. E este tão conservador trato é reflexo direto de tudo o quanto se pode ver deste futebol enlatado de Flamengo, Vasco e todos os outros ditos grandes no Brasil, no caldo de um espírito tão reacionário quanto de quem só pode pensar naquilo - na Copa do Mundo.

Que mesmo os mais despercebidos, distraídos ou alienados, por que não?, de uma maneira ou de outra sintam-se, ao menos, coçados pela indiferença, arrogância, rispidez, verdadeira maldade, que se reflete na realidade de suas mais íntimas paixões, como os clubes de futebol, suas casas (dos clubes e dos próprios tantos torcedores, expropriados de seu chão por decreto do padrão FIFA), suas cores e bandeiras. Que este triste Vasco e Flamengo em Brasília seja símbolo da indignação dos traídos. Um movimento duramente naturalizado guela abaixo de todos nós e que será reproduzido até quando se puder. 

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